domingo, 6 de junho de 2010

MOSQUEIRO: ONTEM - HOJE SEMPRE

MOSQUEIRO - ONTEM - HOJE SEMPRE

Celeste Proença


Mosqueiro - a ilha refúgio, encantada e ingênua em suas cores e flores,
é broto a sorrir em moldura dourada de outo e luz, exibindo aos passantes
toda a beleza inata de suas curvas, de seu fascínio, de seu esplendor.

Mosqueiro é sorriso sem par de criança deslumbrada, gargalhando feliz
sob um céu de ninguém, na vertigem da brisa que vem e que vai, trazendo
notícias, transando amizades, levando saudades.

Mosqueiro - é rede dançando em câmara lenta, pedindo luar para um sonho
de mostério e de paz. Na dança das horas, num céu de plenilunio, num afogar
de risos e flores, Mosqueiro é sem par, não tem silmilar. É um bem de todos -
que a todos faz bem, pois há tanto mistério na ilha refúgio, banhada de sol
e de vento, banhada de mar, que chega a fazer um estado de espírito
a quem se instalar em suas cercanias. Como a própria felicidade, passageira
e fugaz, que todos pedem, que todos desejam e ninguém retém...

Pelo mar, pelo ar e por terra brotam veranistas, que surgem cansados e felizes
porque chegaram ao seu próprio Eden. Tudo é um só gesto, tudo é fraterno,
tudo é amor; porque a gente sente que a ilha morena a todos abraça
e a todos convida ao mais puro fazer.

Assim é Mosqueiro - das madames luxo, de brotos estonteantes de corpos
perfeitos, que se desnudam em roupas coloridas à mercê da natureza que
as dotou de beleza admirável!
Crianças a esmo esbanjam um encanto maroto ao sol e à brisa que passa
cantando, rendilhando cabelos, fazendo carícias em orelhinas rosadas
queimadas de sol.
Babás coloridas, de biquinis ousados, entontecem a moçada que passa e admira;
a fala e comenta numa conversinha de férias, num balaô de graça e espanto.

Mas Mosqueiro é muito mais que isso. É caminho rasgando selva, descobrindo
beleza, falando progresso. Surgem praias sem fim, olhando assustadas
de dentro das moitas, num guaraní de sons e atabaques, saídos de entranhas
de terra cabocla, virgem de guerras.

E até um igarapé, de tão satisfeito, de tão apixonado, resolveu aparecer
deslumbrado e feliz, na praia São Francisco, num união de pura adoração,
para um enlace à luz do luar...

Mosqueiro - é multiplicação de praias, cada vez mais bonitas,
de areias mais alvas, de dorso mais fino, como cheiro de mato...

Mosqueiro - é o próprio uirapuri das selvas que a todos atrai
com seu canto misterioso e eterno.

Pudesse eu te levar, Mosqueiro, em minha bagagem
e cansada do burburinho da cidade,
te armasse como a uma rede, num canto qualquer,
num arroubo de saudade, que bem me faria!

Eu te amo, Mosqueiro, ilha da minha ternura, refúgio do meu lazer,
das minhas grandes recordações...
Nas tuas praias, nas tuas estradas, nos bumbás que se exibiam em quadras juninas,
nas fogueiras crepitantes e douradas, nos banhos de cheiro
e nas sortes ingênuas vislumbradas , num misto de curiosidade e fé,
há um manancial imenso das mais puras e enternecedoras recordações
da minha adolescência.

No meu abraço carinhoso e amigo, vai todo o bem que existe em mim
para a grandeza maior da ilha morena, encantada de sombras e luares,
de serestas e amores, balançando saudade, num sabor diferente,
trescalando a banho cheiroso de São João...

Celeste Proença
Louvação ao Mosqueiro
... e outros escritos
Editora Grafisa, 1983
Belém - Pará


Nenhum comentário:

Postar um comentário