O ADEUS AO POETA
(Em memória a Augusto Meira Filho)
Celeste Proença
Calou-se, de repente, o poeta faceiro.
Toda Belém chorou, num adeus derradeiro
num abraço de dor e de saudade imensa...
A verve, a oratória, a cultura invejável
o amor que dedicou à cidade adorável
tão cheio de ternura, uma ternura mansa
encantado e ditoso em marés de esperança
namorando, ao luar a cidade morena.
Calou-se, de repente, o poeta faceiro
que cantava Belém em versos verdadeiros
exaltando-a, bem alto em desafios de amor.
A cidade chorou. Também todo o Mosqueiro
numa chuva manhosa, abraçando o Diamante,
o bambual quieto, a sua casa adorada
escondida e feliz abrigando a amada
a dona dos seus olhos olhos, que enfeitou sua vida
de beleza e de graça em todos os instantes.
Calou-se Meira Filho. Os poetas não morrem
emudecem o seu canto para ouvir estrelas
na imensidão do céu que pertence a ninguém!
Ilha morena - aonde está o teu canto
o teu raio de sol, tua roupa de luar?
Procura a brisa amena, o marulhar das ondas
o farfalhar das frondes das mangueiras tontas
e leva e deposita aos pés do teu cantor
a fim que que ele saiba que o lembramos muito
e que bem junto a nós, continua contemplando
a sua Belém ingênua, a sua eterna amante
que ele cantava a rir em ritmo constante
apaixonado e puro como adolescente...
O poeta calou. Seu sono é bem tranquilo
sob as frondes sem par das mangueiras amadas
espalhando o silêncio, a sombra benfazeja.
Que seja calmo e belo o seu sono de paz
a fim de não abalar a beleza das horas
no murmúrio da brisa que a saudade traz!
Celeste Proença
Louvação ao Mosqueiro
... e outros escritos
Editora Grafisa, 1983
Belém - Pará
(A Província do Pará, 10.08.1980)
Augusto Meira Filho
Autor do Livro: Mosqueiro, Ilhas e Vilas, 1978
Autor do Livro: Mosqueiro, Ilhas e Vilas, 1978
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